11 dezembro 2007

Alunos "mediadores de conflitos"

Numa escola da Damaia têm função de controlar funcionamento dos espaços.

A indisciplina escolar é um dos problemas mais graves do sistema de ensino em Portugal. A direcção de uma escola na Damaia, nos arredores de Lisboa, está a testar uma solução. Passou para os alunos a responsabilidade de controlar, por exemplo, a entrada, o refeitório e os recreios.

O Conselho Executivo acredita que vai conseguir mudar os alunos mais conflituosos e manter a ordem na escola.

O Pedro é um dos alunos e assume com orgulho as suas recentes funções. Ajuda o funcionário da escola quando os portões abrem às oito da manhã.

Os colegas sabem que está de serviço quando identificam o colete. Dos habituais 50 faltosos, só oito não trouxeram cartão. A espera é mais organizada.

Mas as mãos multiplicam-se quando há alunos a colaborar com os 19 funcionários.

Tal como o Pedro, a Andreia e o Jorge fazem parte do projecto "mediadores de conflitos" uma inovação da Escola Básica 2,3 Pedro d'Orey da Cunha, na Damaia, que anda a ser preparada desde o início do ano

O desafio

O desafio foi lançado pelo Conselho Executivo. A ideia do projecto surgiu há dois anos. Cada aluno foi escolhido por um professor ou director de turma.

A Andreia e a Vanda não somam repetências. O Pedro quer ser presidente da Associação de Estudantes. Entrou "de cabeça" na mediação. Ao contrário do que é hábito, diz que o projecto não vai ficar pelo caminho.

Os outros colegas seleccionados estão em currículos alternativos. Completam o sexto ano, em carpintaria ou jardinagem.

Nesta escola da Damaia há alunos de 14 nacionalidades. A língua é um problema. A escola reflete os comportamentos disfuncionais das famílias de bairros como a Cova da Moura ou o 6 de Maio.

Dos 550 alunos, 40% são apoiados pela acção social escolar e 10% têm processos nos tribunais de menores por serem agressores ou vítimas de maus tratos.

Tratar da escola

De poucas palavras, a nova responsabilidade de vigiar o recreio deve ajudar o Cláudio a desinibir-se e a relacionar-se com os colegas. Menos lixo no chão, menos conflitos no intervalo serão outras vitórias.

Colabora com o senhor Jorge, o segurança da escola e com o conhecido por "Manecas", o auxilar para todo o serviço.

É no auditório que mais gosta de estar. O aluno com dificuldades de aprendizagem, tornou-se no homem dos sete ofícios quando na escola lhe foi dada uma outra oportunidade

O "Manecas" procura ser um exemplo para quem ainda está do outro lado. Conhecido por furar fila e outros comportamentos menos recomendáveis, o Salvador ficou incumbido de controlar a porta do refeitório. Ele, o Euclides e o Cláudio Lopes, também mediadores.

E a escola também espera muito deles e do projecto. Será acompanhado de perto pelo presidente do Conselho Excutivo que diz estar preparado para o cansaço ou o possível desânimo de alguns. Ainda assim, cada dia é uma conquista para quem está habituado a muito pouco.

O ano passado, no agrupamento, foram contabilizados mais de mil incidentes de indisciplina e violência. 48 alunos foram suspensos. Segundo a pedagogia de responsabilização da escola a maioria foi obrigada a cumprir aqui serviço cívico.

SIC On-Line 7/12/2007