13 março 2007

Mediação de conflitos «é a alma da escola»

Estabelecimento de ensino dos Louros tem projecto pioneiro na Madeira

A Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos dos Louros está a desenvolver, este ano lectivo, um projecto pioneiro nas escolas da Região que tem por objectivo diminuir a indisciplina e as agressões naquela comunidade escolar.
O “Fórum dos Louros”, como foi noticiado no nosso jornal, é uma estrutura de mediação de conflitos que envolve alunos, docentes e encarregados de educação.
O JM foi até à Escola dos Louros perceber “in loco” como é que este projecto está a funcionar, qual é a aceitação da comunidade escolar em relação à existência de uma estrutura, onde em casos de conflito, se coloca em confronto as duas partes envolvidas e quais os resultados que estão a ser obtidos.
A professora coordenadora do projecto “Fórum dos Louros”, Tina Gonçalves, começou dizer que esta estrutura foi criada, porque não havia um local, onde os alunos fossem ouvidos em situações de conflito. Por exemplo, quando um aluno era expulso da aula por qualquer comportamento menos aceitável, este ficava a «falar para as paredes». Por isso, há três anos surgiu a ideia de criar um gabinete do aluno, onde a criança era ouvida. «Claro que isto não foi bem recebido na escola. Houve uma reacção dos docentes, porque os alunos vinham para ali dizer mal dos professores». Um ano de projecto, e o gabinete do aluno passou a ser um local onde os professores apoiavam os alunos expulsos da sala de aula, mas só em questões de matéria da disciplina. Todavia, a indisciplina continuava na Escola dos Louros. «Eu tinha medo de andar nos corredores, de me aproximar dos alunos. Se não há disciplina e se não há um diálogo, um contacto com os alunos, eles tomam conta de tudo. Eles andavam aos empurrões e chegaram a deitar ao chão um professor. Estes diziam que já estavam acostumados e que era normal. Os pais vinham à escola e tinham medo, ficavam num cantinho do corredor», disse a responsável pelo projecto. Inconformada com a situação apresentou o projecto do “Fórum dos Louros” à escola, que rejeitou. Determinada, apresentou à Secretaria Regional de Educação, que aprovou, e destacou três professores para o programa.

Mais de 500
participações

«O início do projecto foi complicado, porque os professores não se conformavam em ter de ser confrontados com os encarregados de educação por causa do seu método de ensino», comentou Tina Gonçalves. Mesmo assim, o projecto está em funcionamento desde o início deste ano lectivo e no dossier já estão contabilizados mais de 500 participações e infracções que envolve alunos, docentes e auxiliares, ou seja toda a comunidade escolar.
Quanto a resultados, Tina Gonçalves nota diferenças na população estudantil que se sente mais apoiada dado que «têm um lugar, onde podem recorrer quando há problemas de agressão verbal, física ou de ameaças. Eles já vêm ao fórum fazer as suas participações para os outros alunos serem chamados para que não sejam mais agredidos. Todas estas situações são trabalhadas. Temos alunos que agridem professores, funcionários e colegas».
Não há castigos, porque o propósito é informar, mas se a agressão for verbal, o aluno é chamado à atenção nas duas primeiras situações. À terceira, o encarregado de educação é chamado e o aluno é encaminhado para uma formação. Se a agressão for física, o encarregado de educação é de imediato chamado ao fórum.
Tina Gonçalves afirma que os resultados estão a começar a aparecer e acredita que a mediação de conflitos é «a alma da escola».

Escola dos Louros quer implementar o Dia À Não Violência
Foi para diminuir a violência na Escola dos Louros que foi criada uma estrutura de mediação de conflitos onde alunos, professores ou funcionários vão pedir ajuda em situações de indisciplina ou agressão. O apoio é dado por uma equipa de mediadores constituída por três professores, 17 alunos e nove pais e é coordenada pela professora Tina Gonçalves.
Aberto das 9 da manhã até às 17 horas, a sala onde acontece o fórum de mediação de conflitos é muito procurada.
O projecto “Fórum dos Louros” vai ser dado a conhecer às outras escolas, onde a violência é um problema no dia-a-dia. E para que todos se interessem por este problema, a Escola dos Louros pretende realizar em Maio um Dia À Não Violência, com actividades artísticas durante todo o dia, com a intervenção de psicólogos e psiquiatras que irá decorrer no Jardim Municipal.


Marília Dantas
Jornal da Madeira On-Line